O Pulsar da Revolução.Fevereiro 1974

3 de Fevereiro
•Reunião alargada da direcção da Comissão Coordenadora em casa de Otelo Saraiva de Carvalho. É sugerido o estudo da situação das forças militarizadas, GNR, PSP e GF, bem como da Legião Portuguesa e da DGS, por ser evidente que se oporiam ao Movimento em caso de confrontação.
•Vasco Lourenço é encarregado de elaborar listas de pseudónimos para os elementos da Comissão Coordenadora. Assim, Otelo Saraiva de Carvalho passa a ser o engenheiro Óscar Pinto, Sousa e Castro, o engenheiro Silva e Costa, Neves Costa, o agente técnico de engenharia Neto Ramalho, Rosado da Luz, o empregado bancário Rocha Lima, Diniz de Almeida, o inspector de seguros  Sousa Abrantes.
 

4 de Fevereiro
•Fim do chamado caso da Luta pela Recuperação dos Baldios, em Talhadas do Vouga: os terrenos ocupados ilegalmente pelos Serviços Florestais desde 1938, regressam por decisão governamental à posse da Junta de Freguesia e dos particulares.
 

5 de Fevereiro
•Reunião da Comissão Coordenadora em casa de Marcelino Marques. É alargada, a outros elementos de confiança, a nível de Tenente-Coronel e de Coronel. Estão presentes, pela primeira vez, Garcia dos Santos, Costa Brás e Melo Antunes. Após ampla discussão do projecto de Programa elaborado por José Maria Azevedo, e já aprovado pela Comissão Coordenadora do Exército, este é rejeitado por unanimidade. Em consequência, é eleita uma comissão encarregada de nova redacção. Constituem-na  Costa Brás, Melo Antunes, José Maria Azevedo e Sousa e Castro. Foram ainda devolvidos ao Secretariado, para destruição, os exemplares do documento discutido.
•Chegada a Lisboa de Jorge Jardim para se avistar com Marcelo Caetano, Rebelo de Sousa e Kaúlza de Arriaga, a fim de os elucidar quanto a um plano de independência para Moçambique que, segundo ele, tinha já o acordo dos chefes de Estado dos países fronteiriços (Malawi, Zâmbia e Tânzania) e da própria FRELIMO. A iniciativa não tem acolhimento.
 

7 de Fevereiro 
•Reunião de emergência da Direcção da Comissão Coordenadora em casa de Hugo dos Santos. Tratado essencialmente o problema de Moçambique.
 

14 de Fevereiro
•O Movimento dos Capitães de Bissau, envia uma carta para o Movimento de Lisboa, onde procura exprimir os sentimentos que prevaleciam na Guiné: "há necessidade de conhecer os factores de aglutinação dos oficiais, traduzida por uma tomada de consciência dos problemas nacionais".
•O Padre Mário Oliveira da Macieira da Lixa é julgado e condenado por alegadas actividades contra o regime a um mês de prisão  e à suspensão dos seus direitos políticos por três anos.
 

21 de Fevereiro
•Em Lisboa, durante uma manifestação convocada pelo Movimento Estudantil contra a Guerra Colonial, verificam-se recontros entre estudantes e o Corpo Especial de Intervenção da Polícia de Segurança Pública (Polícia de Choque).
 

22 de Fevereiro 
•António de Spínola publica o livro Portugal e o Futuro. Nele se afirma: "jamais a essência da Nação, a segurança física e o bem estar material e social de tantos dos seus cidadãos, estiveram em tão grave risco como o estão no presente". Venderam-se em poucos meses cerca de trezentos e cinquenta mil exemplares.
•Marcelo Caetano convoca para sua casa os generais António de Spínola e Costa Gomes, aos quais dá a conhecer a sua opinião sobre o livro que considera " não uma tese, mas um manifesto". Além disso declara-lhes que "haviam traído a confiança que depositava neles, e que não teria, daí por diante, possibilidade de continuar a seguir a política que estava fazendo a respeito do Ultramar".
 

25 de Fevereiro 
•Reunião da direcção da Comissão Coordenadora do MFA com alguns elementos da Comissão Coordenadora do Exército, delegados das principais unidades e os delegados dos pára-quedistas Silva Pinto, Bação de Lemos e Avelar de Sousa. Presente ainda o delegado de Moçambique, Ruivo de Oliveira. A comissão de redacção apresentou três textos que procuravam definir politicamente o Movimento. Fica decidido que os representantes das unidades, conhecedores do conteúdo dos documentos, mas sem se fazerem acompanhar de qualquer exemplar, deveriam auscultar os camaradas de cada unidade, enviando a Vasco Lourenço as sugestões que entendessem, em carta registada, até dia 3 de Março, de forma a poder preparar-se um plenário para o dia 5 de Março. 
Decidiu-se ainda  que o Movimento reagiria a qualquer represália exercida sobre qualquer um dos seus elementos. Como medida de precaução cada elemento da Comissão Coordenadora do Exército escolheu um substituto para ocupar a sua vaga na Comissão, caso viessem a ocorrer detenções. 
Foi ainda decidido solicitar um encontro da direcção com representantes dos oficiais oriundos do Quadro de Complemento por forma a esclarecer sem ambiguidades os objectivos do Movimento e tentar reunir esforços.
Decidiu-se, finalmente, alargar a organização do Movimento, com a criação de Comissões Regionais que estarão representadas nas reuniões da Comissão Coordenadora do MFA.
 

28  de Fevereiro 
•Reunião da Direcção da Comissão Coordenadora do MFA com a Comissão Coordenadora da Arma de Engenharia. Procede-se à apresentação e discussão de um minucioso calendário das actividades do Movimento para o mês de Março, elaborado por Pinto Soares, Mourato Grilo e Luís Macedo. 
Prepara-se ainda a reunião de 5 de Março em Cascais, tendo ficado Vítor Alves e Mourato Grilo encarregados de  a dirigir.  
•Numeroso grupo de democratas de Moçambique envia ao Presidente do Conselho de Ministros, um extenso documento em que se tecem duras críticas ao regime e ao seu comportamento nos graves acontecimentos da Beira.
•Eleita nova Comissão do Movimento de Angola, composta por seis capitães e seis majores, que de imediato, solicitam apoio e colaboração a todos os camaradas em serviço em Angola.
•O PS faz circular um documento em que alerta para a agitação dos "oficiais subalternos" das Forças Armadas e para a crise do regime.