O Pulsar da Revolução.Maio 1975

1 de Maio

•Incidentes graves marcam as comemorações nacionais da Intersindical. Fortes divergências entre o PS e a CGTP-IN impedem uma realização unitária e são convocadas duas manifestações. Mário Soares é impedido de subir à tribuna para proferir um discurso no Estádio 1º de Maio, local para onde tinham convergido ambas as manifestações. O PS acusa aquela central sindical de colagem ao Partido Comunista. A Intersindical acusa o PS de atitudes divisionistas. Por seu lado, os grupos marxistas-leninistas convocam uma manifestação independente que desfila desde o Terreiro do Paço até à Alameda.
 

2 de Maio
•Na sequência dos incidentes do dia anterior o PS convoca uma manifestação contra a Intersindical. O slogan mais ouvido é: " Intersindical por via eleitoral".
•O semanário O JORNAL dirigido por Joaquim Letria publica o seu primeiro número.
 

5 de Maio
•No encontro PS-PCP, proposto por este último, não se chega a qualquer acordo.
•A Comissão Executiva da CEE reúne em Lisboa para discutir um plano de quatro pontos para ajuda económica a Portugal.
•É formalmente constituído o MDLP com António de Spínola como presidente, tendo um directório com quatro sectores: Estado Maior com Dias Lima; Ultramar com Santos e Castro; Operativo, com Alpoim Calvão; Político com José Miguel Júdice, Vale de Figueiredo e Pacheco de Amorim. Esta organização de cúpula não chegou nunca a entrar em funcionamento. (JSC)
 

6 de Maio
•Realiza-se uma Assembleia de Delegados da Força Aérea. Mais do que problemas específicos daquele ramo, é discutido essencialmente o diferendo PS- PCP.
 

9 de Maio
•Vasco Gonçalves responde à carta de Samora Machel de 18/4/75.
•Assembleia de Delegados do Exército. Nela se explica a função do Grupo de Dinamização do Exército.
•São nacionalizadas as companhias de cimentos e celulose.
 

11 de Maio
•Realiza-se o 1º Congresso Nacional de Escritores. O Presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Gomes Ferreira afirma: "Com razão, ou sem ela, o público tende a ver em nós o escol paradigmático e exemplar da revolução em marcha, os defensores leoninos do povo, da cultura, da reflexão, da tolerância e da liberdade.
 

12 de Maio
•Início da guerra civil em Angola. O MPLA e a FNLA abrem hostilidades.
 

13 de Maio
•Pelo D. L. nº 228-A/75 são nacionalizadas as empresas de tabaco, A Tabaqueira, INTAR e a Fábrica de Tabacos Micaelense.
 

14 de Maio
•Realiza-se uma Assembleia Extraordinária de Delegados da Força Aérea, com a finalidade de se pronunciar sobre o problema da substituição do CEMFA, coronel Mendes Dias, incluído na lista dos implicados no 11 de Março. É escolhido o Coronel Morais da Silva para esse cargo.
 

16 de Maio
•O D. L. nº 232/75 estabelece medidas contra a sobreocupação de casas. 
•No jornal O Século aparece pela primeira vez referência aos Comités de Defesa da Revolução (CDRs).
 

17 de Maio
•Vasco Gonçalves visita a SOREFAME: "só há duas posições, ou estamos na revolução ou estamos contra a revolução.(...) Não há meio caminho nesta tarefa em que nos metemos e que põe a nossa própria vida, o nosso futuro em jogo".
•Realizam-se várias manifestações promovidas pelos moradores dos bairros da lata de Lisboa e Porto, em luta pelo direito à habitação e pela revogação do decreto "anti-ocupações". A palavra de ordem mais ouvida é : "casas sim, barracas não!"
 

18 de Maio
•Graves incidentes no RALIS desencadeados pelo MRPP.
•Em Dili iniciam-se as negociações com vista à independência de Timor.
 

19 de Maio
•Assembleia do MFA no Alfeite. Da longa agenda de trabalhos fazem parte a interpretação dos resultados eleitorais, a análise da situação político-social e a avaliação da actuação dos partidos. De entre as análises apresentadas à Assembleia, destaca-se a do Ministro da Coordenação Económica Mário Murteira, que anuncia um programa de emergência e a necessidade de um Plano Económico de Transição. Decide-se também a criação de um tribunal revolucionário mais tarde institucionalizado pelo D. L. nº 425/75 de 12 de Agosto de 1975.
•A FRETILIN em comunicado alerta: "a descolonização de Timor continua a ser minimizada".
•Início do chamado "Caso República". No seguimento de discordâncias quanto à orientação do jornal surgidas no dia 2 de Maio, os trabalhadores afastam Raul Rego da direcção do jornal, acusando-a de ter transformado o República no "órgão oficioso do PS". Substituem-no por Belo Marques. Durante dois meses, o CR será o mediador neste caso, tentando evitar quer o afastamento dos directores quer as possíveis represálias sobre os trabalhadores envolvidos. As negociações vão revelar-se infrutíferas. A pretexto deste caso, os ministros do PS e PPD irão abandonar o Governo. O República voltará a publicar-se regularmente a partir de 1, será devolvido, por ordem do Governo, à anterior direcção.
 

22 de Maio
•Ministros Socialistas decidem não comparecer nas reuniões do Governo enquanto não for resolvido o "Caso República".
•O CR emite um comunicado em que foca a situação no jornal República.. O mesmo comunicado define ainda a posição de neutralidade das autoridades portuguesas no processo de descolonização de Angola. É feito um apelo para que o Acordo de Alvor seja respeitado.
 

23 de Maio
•O D. L. nº 250/75 cria na dependência do CR o Serviço Director e Coordenador de Informação (SDCI).
•D. L. nº 251/75 estabelece o regime jurídico de concessão do Crédito Agrícola de Emergência.
•É anunciado que os comandantes das Regiões Militares passam a integrar o Conselho da Revolução.
•As instalações das Minas de São Pedro da Cova, encerradas desde 1969, são ocupadas por moradores da freguesia e por antigos mineiros.
 

26 de Maio
•Assembleia Extraordinária do MFA  no Centro de Sociologia Militar. Ainda sob o efeito do "Caso República" e no rescaldo das eleições, procede-se a aceso debate sobre o projecto político do MFA: "via eleitoralista ou via revolucionária?". É apresentada uma moção de Varela Gomes propondo, entre outras coisas, a criação de um governo unitário e a ilegalização do MRPP. Intervenções radicalizantes de Varela Gomes, Diniz de Almeida e Pinheiro de Azevedo. Intervenção conciliatória de Costa Gomes.
•O MFA critica o PS pela ausência no Conselho de Ministros e manifesta inteiro apoio a Vasco Gonçalves.
•O D. L. nº 256/75 estabelece as normas para a  gestão dos bens dos implicados no 11 de Março.
•Manobras da esquadra da NATO motivam nova manifestação de grupos ligados à extrema-esquerda, hostis à "ingerência do imperialismo".
•Reivindicada a primeira acção do ELP com o assalto à sede do MDP/CDE em Bragança. Ser-lhe-ão atribuídas 30 acções bombistas desde Julho até Novembro de 1975, embora tenha havido outras acções terroristas, levadas a cabo por comandos seus utilizando outras siglas. (JSC)
 

27 de Maio
•Aparece o documento dos Operacionais do COPCON (também chamado «Ultimato do COPCON») saído de uma reunião entre os comandantes e delegados do MFA das unidades do COPCON  da  RML. Os oficiais ali presentes concentram plenos poderes em Otelo Saraiva de Carvalho.
• É publicado o D. L. nº 261/75 que altera a legislação portuguesa repondo a possibilidade de recurso ao divórcio.
•Os trabalhadores da Rádio Renascença na Buraca ocupam os estúdios e o centro emissor, mudando a frase pivot  "Radio Renascença emissora católica portuguesa" para "Radio Renascença ao serviço dos trabalhadores" e passam a dirigir as emissões. Os padres colocados na RR decidem afastar-se do serviço radiofónico.
 

28 de Maio
•Vasco Gonçalves é promovido e Otelo Saraiva de Carvalho graduado general.
•Na sequência do sequestro e espancamento pelo MRRP de um ex-fuzileiro e da publicação no Luta Popular, órgão oficial deste partido, de um artigo no qual Jaime Neves e Salgueiro Maia são acusados de estarem implicados num golpe em preparação. O COPCON ocupa sedes do MRRP na zona de Lisboa e prende cerca de 400 militantes e simpatizantes nas cadeias de Pinheiro da Cruz e Caxias.
 

29 de Maio
•O semanário Tempo inicia a sua publicação. É seu director Nuno Rocha.
 

30 de Maio
•Vasco Gonçalves, presente na Cimeira da NATO em Bruxelas afirma: «Venho dizer a verdade sobre a situação em Portugal. (...) Não somos o cavalo de Tróia dentro da NATO».
•O D. L. nº 270/75 institui o Serviço Cívico Estudantil.
 

31 de Maio
•Victor Alves, enviado em missão oficial a Dili, informa que a UDT desfez a coligação com a FRETILIN. É decidida a realização de uma cimeira em Macau com a presença de Portugal e de todos os partidos e movimentos políticos envolvidos.
•As comissões de moradores são reconhecidas como "órgãos de colaboração e participação nas decisões da Presidência da Câmara do Porto".
•Alastra a guerra no Norte de Angola entre a FNLA e o MPLA. Nova delegação do MFA de Angola desloca-se a Portugal, procurando sensibilizar a opinião pública portuguesa para a gravidade da situação e defendendo que Portugal deve assumir no conflito a posição de "neutralidade activa".