Guerra Colonial - A Sociedade e a Guerra - Apoio Moral

A sociedade e a Guerra

Apoio Moral

Lembranças de Natal da Cruz Vermelha e do M.N.F.

  O início da luta armada dos movimentos nacionalistas nas colónias portuguesas apanhou as Forças Armadas não só impreparadas técnica e operacionalmente para fazer face à guerra, trazida pelos mesmos ventos que sopravam desde o final dos anos 40 nas colónias do outros países europeus, como ainda sem disporem de enquadramento legislativo nem de meios institucionalizados, mesmo rudimentares, de apoio a militares em situação de guerra. Não existia legislação prevista para regular os casos de morte e ferimento em combate, nem muito menos, para o apoio às famílias dos mobilizados. Face a este vazio em que não se previam situações especiais decorrentes da guerra, da morte à incapacidade, da pensão de sangue à trasladação dos corpos, do aprisionamento ou captura de militares em operações ao pagamento de vencimentos, da distribuição de correspondência às licenças de férias…, a primeira resposta de apoio do governo aos militares e familiares, manifestou-se através da criação do Movimento Nacional Feminino (MNF), e a secção feminina da Cruz Vermelha (CVP). Foram as organizações que procuraram suprir essas falhas, desempenhando ainda um papel importante como mobilizadores e catalisadores ideológicos da sociedade e das mulheres em particular. 

Madrinhas de Guerra

  O MNF passou a dedicar-se prioritariamente ao apoio moral e social dos militares e suas famílias, muitas vezes através de acções populares a que não faltavam o cunho da demagogia, mas que em muitos casos se revelaram eficazes na resolução de problemas dos jovens e dos seus agregados familiares face à burocracia e ao desconhecimento das situações decorrentes da guerra. Ao MNF se deve o lançamento dos aerogramas, alcunhados de “bate-estradas”, que constituíram o meio mais difundido de correspondência entre os militares e as famílias. Destes aerogramas foram, cujo o fornecimento e transporte era gratuito para os militares, estima-se, impressos cerca de 300 milhões. Das actividades do MNF destacaram-se a organização de visitas de artistas aos teatros de operações, as ofertas de Natal, com o envio de lembranças, discos, bolas de futebol, isqueiros... . Deve-se ainda ao MNF a promoção da troca de correspondência entre os soldados e as madrinhas de guerra. 

Cecília Suplico Pinto, na Guiné

  A organização do MNF foi estruturada, assentando na figura de Cecília Pinto e no apoio que lhe foi dado por Salazar, tendo vivido da adesão mais ou menos entusiástica das cerca de 80 000 mulheres que a ele pertenciam. Este movimento dispunha de direcção central e de delegações em Portugal e nas colónias. Eram estas delegações que promoviam o trabalho de rotina de apoio aos militares e que se tornam mais visíveis por ocasião de Cecília Pinto. 
  O Movimento Nacional Feminino, dirigiu a acção para os militares activos nos teatros de operações; a secção da Cruz Vermelha Portuguesa dedicou-se principalmente ao apoio aos militares feridos e estropiados, cujo número aumentava e para os quais não havia sistema nem de recuperação nem legislação aplicável. Os dois movimentos aproveitaram as boas relações das suas dirigentes com o apoio do regime para incentivar a publicação de leis e normas correctoras de erros e injustiças administrativas, entre as quais se contava a alteração à situação dos feridos em combate, conseguindo que estes não perdessem direito aos vencimentos  e aos subsídios de campanha quando evacuados para os hospitais centrais; a revisão das pensões dos deficientes militares, que era regulada ainda pelas normas da 1ª Guerra Mundial; o apoio às famílias dos mortos, que permitindo que os corpos dos mortos fossem trasladados para as terras de origem destes, sem qualquer custo para as famílias; e ainda a legislação de apoio aos militares estudantes.