Documento do mês: junho 2025

Em 1951 Francisco da Costa Gomes é colocado no Estado-Maior do Exército, com o objetivo de planear a integração de forças militares portuguesas na NATO. Acabará por concluir que as Forças Armadas Portuguesas não reuniam condições para cumprir a promessa. Em 1953, será o próprio quem dirigirá as manobras militares (pela primeira vez na sua carreira), com o objetivo de formar unidades nacionais capazes de incorporar a NATO e um ano depois é nomeado para o Comando Aliado Supremo do Atlântico (SACLANT). Parte, então, para os EUA, onde, ao lado do general Humberto Delgado, assiste a uma explosão atómica experimental que o leva a reforçar a ideia de que “a guerra atómica era impossível”. A questão do uso da energia atómica foi a sua principal área de estudo enquanto ali permaneceu.

O documento do mês, objeto doado por Francisco da Costa Gomes, pertence ao Núcleo Museográfico do Centro e é alusivo ao período descrito, ocorrido há cerca de 70 anos atrás nos Estados Unidos da América. Trata-se de uma placa de identificação, referente à presença de Francisco da Costa Gomes na primeira experiência atómica americana depois da segunda guerra mundial - “Operation Cue”, ocorrida às 05H10 do dia 5 de Maio de 1955, numa área definida e designada pelo então Presidente Truman de “Nevada Testing Site”, no deserto do Nevada - Las Vegas. Costa Gomes foi convidado a assistir ao ensaio de uma bomba nuclear. A placa, que contém a inscrição "F. Costa Gomez LT. CDR", correspondendo a abreviatura da patente a "Lieutenant Commander", foi colocada a aprox. 1097 m do local da explosão.

Citando Manuela Cruzeiro, aquando do ciclo de conferências “Os Presidentes da República”, decorrido no Museu Bernardino Machado a 8 de Abril de 2005, Francisco da Costa Gomes “assistira em 1955 à primeira experiência atómica realizada nos EUA depois da Segunda Guerra, trabalhara no Quartel General da NATO, na coordenação dos planos de utilização da energia atómica, uma área vedada à maioria dos oficiais americanos da organização. Foi, de facto, o primeiro português a estudar os efeitos de uma eventual guerra atómica, tendo sido esse o tema da sua tese no curso de Estado Maior, já em 1948. Em plena guerra fria, não hesitou em demonstrar os perigos para a Humanidade da corrida armamentista, que poderia conduzir ao holocauto nuclear, e bem assim, a irracionalidade das teorias da guerra nuclear limitada.(...)”

Ver também:

Vídeo da "Operation Cue" (1955) disponível no sítio em linha publicdomainreview.org